sexta-feira, 29 de maio de 2009

Hilda Hilst























*21/04/1930 +04/02/2004
Descrevê-la em uma palavra é deveras difícil. Inspiradora? Marcante? Qualquer adjetivo parece insuficiente. E é. Hilda viveu de verdade, "até o talo". Fez cair de paixão a seus pés vários homens em sua fase mais boêmia, inclusive (pasme) Vinícius de Moraes. Sem dúvida era talentosíssima, e teve seus momentos de tresloucada. Bacharéu em direito por profissão, nunca teve nenhum gosto mais evidente e aguçado que para as palavras. Casou-se apenas por imposição da mãe. Nem sempre foi ovacionada pela crítica porque, logicamente, nem sempre escreveu o que a hipocrisia da sociedade suporta ouvir. No fim de sua vida jurava que tinha um monte de extra terrestres visitando a casa do sol (sua residência) e que fazia contato com pessoas mortas através de fax. Douda ou não (afinal, o que é normal?), ela foi premiada do início ao fim de sua carreira, teve suas obrias traduzidas para vários idiomas e virou imortal, de fato e de direito. Se os mortos falam ou não, não se sabe, agora, que ela viverá para sempre, rá!
Ávidos de ter, homens e mulheres caminham pelas ruas.
As amigas sonâmbulas, invadidas de um novo a mais querer,
Se debruçam banais sobre vitrines curvas.
Uma pergunta brusca, enquanto tu caminhas pelas ruas.
Te pergunto: e a entranha?
De ti mesma, de um poder que te foi dado
Alguma coisa clara se fez? Ou porque tudo se perdeu
É que procuras nas vitrines curvas, tu mesma,
Possuída de sonho, tu mesma infinita, maga,
Tua aventura de ser, tão esquecida?
Por que não tentas esse poço de dentro
O incomensurável, um passeio veemente pela vida?
Teu outro rosto. Único. Primeiro. E encantada
De ter teu rosto verdadeiro, desejarias nada.
(Júbilo Memória Noviciado da Paixão (1974)
Poemas aos Homens do nosso tempo XIII)

quinta-feira, 28 de maio de 2009

Florbela Espanca

* 08/12/1894 +08/12/1930


Flor D'Alma da Conceição Espanca nasceu em Portugal. Foi concebida fora do casamento do pai mas, abandonada pela mãe, foi criada pela madrasta que a adotou ainda muito jovem. Desde seu primeiro poema aos 7 anos (Vida e Morte), revelou sua preferência pelo tom melancólico e sua precocidade literária. Causou estarrecimento geral desafiando as rígidas regras morais da época, ao ingressar no ensino secundário (isso era proibidésimo, mas o pai dela era do bem e mudernoso) e com sua vida amorosa conturbadíssima - nada menos que 4 casamentos desfeitos. Na última separação, até a família dela cortou os laços, acredita? O "ó" foi que, infelizmente, acabou ficando neurótica de vez, o que a levou ao suicídio no dia de seu aniversário, 36 anos depois. Marcou época, essa musa. Mas olha só que doçura e leveza ela foi capaz de extrair disso tudo:
?!
Se as tuas mãos divinas folhearem
As páginas de luto, uma por uma
Deste meu livro humilde; se poisarem
Esses teus claros olhos como espuma
Nos meus versos d'amor, se docemente
Tua boca os beijar, lendo-os, um dia;
Se o teu sorrir pairar suavemente
Nessas palavras minhas d'agonia
Repara e vê! Sob essas mãos benditas,
Sob esses olhos teus, sob essa boca
Hão de pairar carícias infinitas!
Eu atirei minh'alma como um rito
Às trevas desse livro, assim, ó louca!
A noite atira sóis ao infinito.
(Trocando Olhares. 1915)

Musas Literárias

Hoje o definitividades tem a honra de inaugurar uma série de publicações de poemas e textos das grandes musas da literatura. Mulheres que, como nós, encontram alento e lirismo até no próprio desencanto e nos emocionam imensamente. Já comecei a seleção das "mulheres de dois cérebros" e tentarei expor uma prévia da biografia delas, seguida do mais difícil: um único texto selecionado. Espero que gostem e se inspirem.

quarta-feira, 27 de maio de 2009

Saboreando tempo

Tinha ontem dormências no peito que hoje são mera lembrança. Vaga e imprecisa. Eram realidades então duríssimas que nutriam a superficialidade dos meus dias. Meus prazeres pareciam pecados enquanto meus pesares sobravam desobedientes. Ia vivendo em lágrima, garra e uma flor nas mãos frias fitando aquele semblante de realidade. Secretamente eu passava meus dias com as linhas de Lyas, Hildas, Clarices, Cecílias, Fridas, Florbelas, Sylvias e lendo o que elas escreviam, descobri na solidão as belezas e compensações que a dor traz consigo. Hoje, relendo meus escritos de anos atrás, percebo que (finalmente) encontrei serventia nos amores perdidos, na crueldade dos abandonos e nas cicatrizes sob o peito: percebi que quanto mais se vive, mais tramas e heras se apoderam da gente, tornando-nos mais fortes e sábias. Por isso mesmo é muito perigoso olhar de novo pra alguém que ficou pra trás: você (como eu) quererá encarar os grandes monstros que te aterrorizaram. Qual não será a surpresa ao descobrir que o que te fazia tremer era sua própria invenção!

Rá!

é quando você acha que tem todas as respostas que vem a vida e muda todas as perguntas.

Clarisseando

"Estou tão assustada que só poderei aceitar que perdi se alguém estiver me dando a mão. Dar a mão a alguém sempre foi o que esperei de alegria. Muitas vezes, antes de amanhecer, nessa pequena luta por não perder a insconsciência e voltar ao mundo real, e muitas vezes antes de ter coragem de mergulhar na grandeza do sono, finjo que alguém me está dando a mão e então vou, vou para a enorme ausência de forma que é o sono. E quando mesmo assim não tenho coragem, então sonho... Enquanto escrever e falar, de hoje em diante, vou ter que fingir que alguém está segurando a minha mão"

(in: A paixão segundo G.H.)

sábado, 23 de maio de 2009

Marisa Monte e Julieta Venegas

OOOOOOOOOOOOOOOOiiiiiiiiiiiiiiiiii.
Essa é a música do mês. Linda, linda, linda.
Dedicada à minha sempre, sempre adorada Lariza.
Beijo, amore.
Que o lirismo e o exagero dos sonhos que um dia tivemos nunca nos abandone na porta dos frios cadafalsos que possamos vir a ter que encarar.

segunda-feira, 18 de maio de 2009

Resistindo


Flagrante de Nuno Milheiro


Você imaginava estar vivendo num cenário em furtacor, brilhos intensos, variadas matizes, e tinha tudo por vir. Era grande a euforia, já que deu tudo de melhor que havia em si mesma, já que não poupou esforços, suor, bravura, coragem. E quando pensa que venceu a guerra, vem a vida e te provoca, incita, espreme contra a parede chapiscada. E a estrada por pavimentar se acidenta um tanto mais, e os olhos de tudo estão voltados pra você com curiosidade: - como irá levantar dessa vez? O que quer que haja por trás da vida, parece querer extrair a essência dos nossos propósitos. Sem fatalismos, sem chororô, sem nhém-nhém-nhém. É isso: ou pega ou larga. Ou persiste de cabeça erguida, ou se desfaz feito suspiro sob a água. Lágrimas e lamentos? Nããããã!!!!!! Que venha o mar em fúria, que Deus é maior e (além da fé) trago em mim a certeza de que depois da grande ressaca das águas está muito próximo o refluxo da maré.

quinta-feira, 14 de maio de 2009

Escolhendo viver

Esta foto foi tirada por mim, num desses dias em que a natureza resolve esnobar sob qualquer ângulo.

Quando você se julga pelo que está passando agora, corre o risco de olhar pra si com tristeza ou angústia. Quando teme o futuro e volta seus olhos pro passado remoto, findo, indesculpável, irreconstruível, abreviam-se as horas de que dispõe pra reconstruir um futuro lindo. Quando desacredita de si mesmo, dos seus talentos, qualidades, e até da possibilidade de renovar-se na busca pela reconstrução de sua personalidade onde há falhas (quem não as encontra?). Quando dá ouvidos àqueles que não acreditam no seu amor, nos seus sonhos, nos ideais que nutre (por mais ideológicos que sejam). Quando se concentra nas pedras, nas quedas de cabeça, nas rasteiras, nos planos interrompidos, nas dores e amarguras. Quando você nutre impropérios pela mágoa alimentada no âmago da incompreensão com quem te feriu. Aí sim, você acaba. E acaba porque neste palco a música que toca requer capacidade de perdoar, adaptar-se, crer mais uma vez, levantar, cobrir as feridas, refazer o caminho, olhar em frente, deixar-se consquistar novamente, e de novo e mais ainda, por difícil que pareça. É uma questão de opção. E ela é só sua.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Dança da Solidão

Sem legendas pra hoje.

segunda-feira, 11 de maio de 2009

Pior que a raiva



Pior que olhar seus olhos e ter vontade de chorar, de gritar, de pedir, implorar. Pior que a vontade de amar você, que algumas vezes ardia. Pior que esperança desmesurada da ressurreição dos sentimentos atados, contritos, ocultos. Pior que a raiva de amar sem censura, sem limites ou medos, sem prós ou contras, sem razões ou justificativas. Pior que o gosto amargo das palavras duras e pior que o silêncio forçado do fundo do peito ocultando zilhões de pedidos. Pior que vê-lo em silêncio e desejar estar perto, invadir o seu mundo, seus minutos sozinho, suas secretas passagens e seus esconderijos, ocupar todos os lugares onde não me foi dado entrar. Pior que tudo isso é esse nada que se avizinha. Esse gosto oco de solidão. O silêncio que não precede nenhum esporro, que não pede atenção, que não clama e não quer. Pior que a raiva que havia é o olhar que já não diz nada. O choro que não quer mais surgir. O medo de perder que cedeu espaço a essa intensa vontade íntima de estar só. Antes só. Pior que a raiva de amar, que o medo de perder, que a vontade de insistir, que os chumbos trocados, que as dores guardadas são essas visíveis cicatrizes que nem o nada apaga, são esses poços profundos onde jazem uma de mim que quis, um de você que morreu, isso tudo de nós que por desventura se foi. Pior que tudo isso é não haver saudade.