Manuela Pinheiro
Deram-se o enésimo abraço entre risos contidos, pensamentos contritos, corpos resetados. Já não tinham nas mãos a mesma sensação confortável de não ter que escolher. Ele já não tinha mais a certeza de que viveu o possível, p.t. saudações, agora acabou. Ela por sua vez, despachara a zona de guerra entre seus pensamentos e suas ações para inaugurar-se inteira naqueles braços de abraços e carícias e nenhuma cobrança, dúvida ou contenção. A palidez das tardes de domingo, o gosto morno dos dias sem paixão, sem desejos, sem pecados ocultos, sem segredos inconfessáveis por sobre faces enrubescidas haviam terminado para ambos. Ainda assim comungavam a culpa de viver o amor reconditamente e a dor de não se dar as mãos, não se olhar nos olhos, não se abraçar diante dos passantes. A euforia já dava lugar à dúvida e não sabiam se, um pro outro, valiam bênção ou pesavam maldição. Têm hoje em si, todas as reticências do universo guardadas no silêncio dos olhos, na calidez dos abraços, nas lembranças, nas palmas das mãos.
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