A tempos você dói em mim. Há momentos em que não sei se seus olhos querem me dizer "vá embora" ou "estou aqui". Não sei bem ler nas entrelinhas do seu silêncio desconsertado como sabia noutros tempos... e não encontro a poesia adormecida e doce dos seus olhos distantes como encontrava outrora. Não há aroma de porvires nem expectativas de véspera no meu caminhar. Talvez isso signifique que deva acabar, que deva ser conjugado no pretérito perfeito porque, afinal, não somos mais só você e eu e nossos sentimentos. Não é mais sobre se vamos desistir de tudo o mais e seguir adiante unidos pela força deliciosa de amar escancarada e destemidamente. Agora é sobre dúvida e dor, sobre impossibilidades e sobre a tremenda carga que todas essas palavras mal ditas já exercem sobre nossos ombros. É ainda mais difícil porque, covardemente e nas sombras dessas odiosas certezas, você me deixou a sós pra definir se continuo comendo migalhas do que já houve entre nós, ou se decido partir. E por ter feito assim, talvez você tenha mesmo me dado a sua resposta, a resposta de quem lava as mãos: dizendo pra eu decidir, hoje você me diz pode ir...
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