quarta-feira, 27 de junho de 2012


Quando me apaixono, tenho esse fogo queimando o peito que não me deixa dormir! E quero viver mais, porque já me conheço o suficiente pra saber de mim. Sei que haverá mais momentos em que minha alma estará quieta e clara, e quero adiar... de modo que espalho sons por todos os lados, canto alto, rio à toa, uso boca escarlate, unhas pastel, olhos pretos, alma carmim. Preencho todos os espaços desse euforia evitando a literatura, que me vem farta com a dor do depois. Não é um amor. Pelo menos não apenas. É a surpresa de saber-me viva e pronta, o prazer da redescoberta de uma de mim que jazia silente e triste, num canto qualquer da alma. O que me entorpece e toma os sentidos é simplesmente o poder sentir. E que viva a ilusão da eternidade em abraços e beijos secretos, mensagens noturnas, olhares fugidios, carícias escondidas... que viva enquanto durar. Que viva o suficiente pra que haja lembranças fartas quando se instalar o tempo do silêncio e dos relicários de memória.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Das flores e de ti


Tenho janelas e portas abertas, luzes acesas, vento correndo suave pelas paredes da alma. Ornei a casa com flores muito belas, os olhos com esperanças, o corpo com porvires, a boca com anseios, as mãos com carinhos. E, fechado o ciclo dos senões e porquês, agora tenho na alma a sensação de reestreia que é quase doce, quase leve, e me deixa quase completamente tomada pelo torpor de bastar a mim mesma com as sensações que trago no peito.  Está tudo pronto. Pode vir. Senta aqui, olha pra mim e, prometo, a contemplação não há de permitir que eu perca uma só palavra. Dá-me tuas mãos e me abraça que eu vou reter os segredos do teu cheiro e do calor que vem de ti. Enquanto isso, contarei as tuas frases, perceberei tua cadência, teus tons, a recôndita intenção. Depois, perdida no reencontro, eu sei que vou sorrir.

domingo, 10 de junho de 2012

Agora


http://www.1000imagens.com/ - Tereza Fonseca


Agora que teus olhos me fitaram de tão perto, que as texturas do teu corpo já me são familiares, agora que teu cheiro entrelaça minha pele, que tua boca tatuou nas minhas entranhas os caminhos de tanto prazer... Agora que alcanço a ti e aos teus encantos, verdadeiramente... Gostaria de apenas poder fazer-te apaixonar desesperadamente. Mas a maturidade me cega (ou conduz) e impede que me entregue e me impele a dizer coisas sensatas e rir dos teus romantismos só pra te fazer mais menino, mais inseguro, um tanto mais suspenso nesse espaço-tempo de pomenores desconhecidos pra ti. Não sabes o quanto posso me apaixonar. Melhor que permaneças assim - ignorando minhas profundidades extremas. Mas intimamente quero te ser mistério e luz, saudade e segredo, lembranças e desejo. E espero também sair ilesa desse jogo que pode mesmo machucar. Por hora ficam teus olhos em mim, tuas mãos nos meus cabelos, tua pele na minha, as marcas físicas recentes de uma paixão consumada. Sem depois.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Society

When you want more than you have, you think you need...And when you think more than you want, your thoughts begin to bleed... I think I need to find a bigger place, because when you have more than you think, you need more space!
(Society)

Porque um dia, quisemos nos vincular apenas a verbos de ligação: (ser, estar, permanecer, ficar, continuar...) sonhávamos com a proximidade, lidávamos com contato físico o tempo todo, das brincadeiras às primeiras conquistas amorosas, passando pelas euforias, dores e conflitos dos ganhos e perdas. Era tudo sentido na pele. As invenções da sociedade o corromperam? Onde está agora o seu melhor amigo? Do outro lado da tela? E sua vida? Esvaziada pelo correr atrás de tudo o tempo todo? O que foi feito dos seus amores? Das relações do seu dia a dia? Quanto tempo tem se dedicado a sonhar com coisas reais? A sentir aromas e sabores, a aguçar o tato, a visão com as belas coisas que o cercam? Quanto você perdeu na tentativa de ter sempre mais? De quanto espaço a mais você já precisa pra guardar sua "tranqueira"? E o acúmulo de materialidades ajudou você com a administração da tristeza? Você ainda consegue assumir sua humanidade? Hum?