Fiquei no chuveiro deixando a água cair como numa tentativa vã de reverberar, expurgando não-sei-bem-o-quê. Talvez tristeza, coisa que por si só, nem faz sentido. Talvez a causa da minha tristeza. Mas como expurgar-me de mim mesma? Queria catarse de qualquer tipo, de qualquer forma, vinda de qualquer lugar. Paliativos que fossem, mas já me serviriam... Abandonei-me ali, e segui pra paragens distantes sem mim. Fiquei por longo tempo assim: imóvel, molhada, com olhos vagos enfiados em idéias, em imagens e elucubração, como procurando o caminho da felicidade que acabara de deixar. Sem que percebesse, a angústia compactada no meu coração irrompeu e eu chorei, chorei até soluçar, até que meus olhos ficassem vermelhos, e senti o gosto de chorar na boca. Minutos depois percebo que mesmo a delícia aguda de amar alguém pode te cercar de precipícios e pior: pode te deixar o gosto falso de que aquele arremedo de amor é irreproduzível. E a sensação não passa.
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