Alyssa Monks - morning after, 30 x 50 - oil on linen, 2004
Ela acordou sem saber que horas eram. E não pensou no relógio, nem que precisaria partir. Trazia nos braços apenas a sensação de pertencer àquela de si que sonhara, tempo suspenso no espaço de odores, sabores, sensações e desejos satisfeitos. Pousou o queixo sobre a mão estendida, ainda trêmula, pra perceber com surpresa: ele ainda estava ali. Vestiu a camisa amassada de abraços, acendeu um cigarro e sentou-se na poltrona aos pés da cama. Contemplação. Quanto de sua essência depositara sob aqueles olhos? Quanto de força investira, advogando o direito de acreditar no amor? Perguntas não respondidas pairavam na fumaça enquanto ele dormia. Sentia-se inalcançável, e o mundo já não tinha a menor relevância. A sofreguidão de ontem dera lugar a uma quietação com a qual, estranhamente, já não se identificava mais. Como se tocasse nuvens, decidiu apenas ter consigo a plenitude do momento doce, o silêncio, a euforia lúcida, a aura da liberdade que quase podia tocar. Mal sabia que aquelas imagens seriam um relicário da memória, tempos depois, quando precisaria abandonar a si mesma sem a paz, sem o cheiro, sem os meios tons.
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