Excrucitante é tentar entender a infelicidade produzida a dois. Resolvemos em algum momento que seria isso: conjugar os verbos todos na primeira pessoa do plural. Reunir as afinidades minimizando as diferenças. Mas, no curso do tempo que nada perdoa, há silêncios profundos no lugar das palavras. Desatenções tomaram de assalto o território antes reservado aos carinhos, aos beijinhos, às juras de amor. A TV está sempre ligada no dia que era reservado ao cinema, ou ao parque, ou ao teatro, ou ao chopp ao ar livre, enquanto nos cercávamos de planos e flutuávamos na imaterialidade colorida dos sonhos de amor. E depois, a dor de estar só. A constatação da derrota: não conseguimos sair do singular e agora, aquilo que era "nós" se transforma na ditadura do "eu". E as palavras ferinas, humilhantes, destruidoras. E mais à frente os não olhares que revelam o terror de ver no outro (ironicamente "o eleito") um completo e absoluto estranho. Recomeçar "apesar de". Será possível? Tenho preferido o grito e não sei se verdadeiramente é possível reconstruir sobre ruínas.
quarta-feira, 28 de abril de 2010
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Excrucitante é tentar entender a infelicidade produzida a dois. Resolvemos em algum momento que seria isso: conjugar os verbos todos na primeira pessoa do plural. Reunir as afinidades minimizando as diferenças. Mas, no curso do tempo que nada perdoa, há silêncios profundos no lugar das palavras. Desatenções tomaram de assalto o território antes reservado aos carinhos, aos beijinhos, às juras de amor. A TV está sempre ligada no dia que era reservado ao cinema, ou ao parque, ou ao teatro, ou ao chopp ao ar livre, enquanto nos cercávamos de planos e flutuávamos na imaterialidade colorida dos sonhos de amor. E depois, a dor de estar só. A constatação da derrota: não conseguimos sair do singular e agora, aquilo que era "nós" se transforma na ditadura do "eu". E as palavras ferinas, humilhantes, destruidoras. E mais à frente os não olhares que revelam o terror de ver no outro (ironicamente "o eleito") um completo e absoluto estranho. Recomeçar "apesar de". Será possível? Tenho preferido o grito e não sei se verdadeiramente é possível reconstruir sobre ruínas.
terça-feira, 27 de abril de 2010
...
terça-feira, 20 de abril de 2010
Despertenço
segunda-feira, 19 de abril de 2010
sexta-feira, 16 de abril de 2010
Refletindo
quinta-feira, 15 de abril de 2010
Oblíqua
quarta-feira, 14 de abril de 2010
Chico
terça-feira, 13 de abril de 2010
Dia internacional do beijo
...Tudo isso pelo encanto
Resistes
quinta-feira, 8 de abril de 2010
Notícia velha
O The Sun de 1º de abril pregou uma peça em seus leitores ingleses. Em uma de suas páginas, o jornal anunciava uma nova tecnologia em impressão: “A primeira página que você pode saborear” - essa frase vinha acompanhada da instrução “lamba aqui”.
E tudo não passou de uma grande brincadeira de April Fools.
Delícia de pensamento
O mundo é esquisitíssimo! kkk (ou coisa que o valha)
Bom dia, boa noite
Meu amor e muita grana
Coisas lindas vão rolando
Eu estou me encantando
Ou
Os cheiros que chegam com a chuva
Me mostram o sei que eu seria
Comemoram o tempo perdido
E aplaudem as conquistas queridas
Ufa!
quinta-feira, 1 de abril de 2010
Acorrentados
Paulo Mendes Campos
Quem coleciona selos para o filho do amigo; quem acorda de madrugada e estremece no desgosto de si mesmo ao lembrar que há muitos anos feriu a quem amava; quem chora no cinema ao ver o reencontro de pai e filho; quem segura sem temor uma lagartixa e lhe faz com os dedos uma carícia; quem se detém no caminho para ver melhor a flor silvestre; quem se ri das próprias rugas; quem decide aplicar-se ao estudo de uma língua morta depois de um fracasso sentimental; quem procura na cidade os traços da cidade que passou; quem se deixa tocar pelo símbolo da porta fechada; quem costura roupa para os lázaros; quem envia bonecas às filhas dos lázaros; quem diz a uma visita pouco familiar: Meu pai só gostava desta cadeira; quem manda livros aos presidiários; quem se comove ao ver passar de cabeça branca aquele ou aquela, mestre ou mestra, que foi a fera do colégio; quem escolhe na venda verdura fresca para o canário; quem se lembra todos os dias do amigo morto; quem jamais negligencia os ritos da amizade; quem guarda, se lhe deram de presente, o isqueiro que não mais funciona; quem, não tendo o hábito de beber, liga o telefone internacional no segundo uísque a fim de conversar com amigo ou amiga; quem coleciona pedras, garrafas e galhos ressequidos; quem passa mais de dez minutos a fazer mágicas para as crianças; quem guarda as cartas do noivado com uma fita; quem sabe construir uma boa fogueira; quem entra em delicado transe diante dos velhos troncos, dos musgos e dos liquens; quem procura decifrar no desenho da madeira o hieróglifo da existência; quem não se acanha de achar o pôr-do-sol uma perfeição; quem se desata em sorriso à visão de uma cascata ; quem leva a sério os transatlânticos que passam; quem visita sozinho os lugares onde já foi feliz ou infeliz; quem de repente liberta os pássaros do viveiro; quem sente pena da pessoa amada e não sabe explicar o motivo; quem julga adivinhar o pensamento do cavalo; todos eles são presidiários da ternura e andarão por toda a parte acorrentados, atados aos pequenos amores da armadilha terrestre.
Texto extraído do livro "O Anjo Bêbado", Editora Sabiá - Rio de Janeiro, 1969, pág. 105.
É tão verdadeiro esse texto... tão atual, apesar de ter sido escrito há mais de 40 anos! Eu vi lá na Marina W. e resolvi transcrevê-lo inteiro de tão inspirador à reflexão. Beijocas a todos, ainda estou com muita náusea pra escrever algo que preste. Pra não ficar repetindo insistentemente esses posts que tenho escrito sobre o nada, vai uma coisa bem melhor que minha limitada retórica.