quarta-feira, 27 de maio de 2009

Saboreando tempo

Tinha ontem dormências no peito que hoje são mera lembrança. Vaga e imprecisa. Eram realidades então duríssimas que nutriam a superficialidade dos meus dias. Meus prazeres pareciam pecados enquanto meus pesares sobravam desobedientes. Ia vivendo em lágrima, garra e uma flor nas mãos frias fitando aquele semblante de realidade. Secretamente eu passava meus dias com as linhas de Lyas, Hildas, Clarices, Cecílias, Fridas, Florbelas, Sylvias e lendo o que elas escreviam, descobri na solidão as belezas e compensações que a dor traz consigo. Hoje, relendo meus escritos de anos atrás, percebo que (finalmente) encontrei serventia nos amores perdidos, na crueldade dos abandonos e nas cicatrizes sob o peito: percebi que quanto mais se vive, mais tramas e heras se apoderam da gente, tornando-nos mais fortes e sábias. Por isso mesmo é muito perigoso olhar de novo pra alguém que ficou pra trás: você (como eu) quererá encarar os grandes monstros que te aterrorizaram. Qual não será a surpresa ao descobrir que o que te fazia tremer era sua própria invenção!

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