hoje me desfiz dos meus bens
vendi o sofá cujo tecido desenhei
e a mesa de jantar onde fizemos planos
o quadro que fica atrás do bar
rifei junto com algumas quinquilharias
da época em que nos juntamos
a tevê e o aparelho de som
foram adquiridos pela vizinha
testemunha do quanto erramos
a cama doei para um asilo
sem olhar pra trás e lembrar
do que ali inventamos
aquele cinzeiro de cobre
foi de brinde com os cristais
e as plantas que não regamos
coube tudo num caminhão de mudança
até a dor que não soubemos curar
mas que um dia vamos
vendi o sofá cujo tecido desenhei
e a mesa de jantar onde fizemos planos
o quadro que fica atrás do bar
rifei junto com algumas quinquilharias
da época em que nos juntamos
a tevê e o aparelho de som
foram adquiridos pela vizinha
testemunha do quanto erramos
a cama doei para um asilo
sem olhar pra trás e lembrar
do que ali inventamos
aquele cinzeiro de cobre
foi de brinde com os cristais
e as plantas que não regamos
coube tudo num caminhão de mudança
até a dor que não soubemos curar
mas que um dia vamos
Martha Medeiros - De cara lavada
Tô indo embora. Deixo aqui a quase certamente lúcida impressão de que fiz o melhor que pude com os recursos que tive. Procurei emendar meus defeitos com o último lançamento da super cola, mas há coisas irremediáveis, paciência. Tô seguindo outros rumos, arrumando outro prumo, inaugurando outro norte. Tô indo embora. Deixo as paredes vazias de mim, a cozinha das tardes de domingo sem cheiro de bolo de laranja, os dias sem as flores nos cantos da sala. Fica tudo certo: cada um com seus desejos, com seu futuro e com a própria cama pra arrumar. Estejamos certos, eu e o tempo, de que ir embora traz a doce oportunidade de reinventar.
3 comentários:
Já vivi essa situação é fuck!
Bjs.
Como é doída dor da separação, quando planos frustrados quando mágoas escondidas, quando sonhos não vividos. O remédio e não olhar para trás e tentar novamente.
Beijos
Coisa mais linda para um fato tão difícil. É a vida, é a estrada, é a madrugada, mais acima de tudo: é você! São seus sonhos, são seus medos, são seus zelos e seus caprichos, são seus risos, são suas escolhas, são seus espaços preenchidos pelo novo amanhã. É a gaivota que voa, o mar que espuma na praia, é o pingo da chuva, o escrito no caderno, a orelha do livro, o prospecto da viagem, é a paisagem registrada na sua memória, é o leite quente e o pé bem frio, a camisa furada e o vestido bem curto na hora de sair. Seja você e assim serás tudo.
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