terça-feira, 23 de março de 2010

Caso Nardoni



Essa noite estava pensando, insone, a quantas anda nossa humanidade. Que tipo de criatura seria capaz de atirar da janela uma criança indefesa? O que em nós permite essa fúria incontida que mata, aterroriza, humilha, destrói? De onde surge a capacidade de sermos cruéis, insanos, auto destrutivos? Não é como advogada que falo, porque qualquer advogado desse país estuda como princípio fundamental do direito penal o estado de inocência, o direito à defesa. Pode mesmo ser que eles sejam inocentes. Por que não? Não é a culpa ou a inocência que estou me referindo nesse caso específico, mas a decência, medo, banalização de violência, intolerância, crueldade. Como cristã, como mãe, como pessoa humana, chego a sentir náusea só de pensar no quanto estamos ficando acostumados a desconsiderar a vida em todas as suas manifestações.
Quanto te espanta, afinal, ver uma pessoa igual a você sentada na beira de uma calçada feito bicho fumando crack? Quanto te assusta verificar a incoerência de crianças sendo torturadas? O que você acha da discriminação social que subtrai a milhares de pessoas todos os dias o direito de acesso às oportunidades de estudar, aprender, crescer, porque devem aceitar um subemprego como tábua de salvação? E o que dizer da torpeza que retira de nós meninos e meninas ainda impúberes e os "recruta" para a prostituição, para o tráfico de drogas, para o terror de uma vida sem futuro nenhum?
Alguém matou Isabella Nardoni. Quem quer que tenha sido, qualquer que tenha sido a circunstância, está ainda oculta. Pode ser que assim permaneça para todo o sempre quer haja condenação, quer não. Milhares de outras crianças têm sido mortas todos os dias, pode ser que permaneçamos ainda inertes, pode ser.
Senhor, tende piedade de nós, que somos brutos e temos matado, torturado, abandonado nossa própria esperança.
O genial Monteiro Lobato já havia pensado noutros tempos:

"Ainda acabo fazendo livros onde as nossas crianças possam morar."

(Carta a Godofredo Rangel, Rio de Janeiro, 7/5/1926)

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